QUEM MORREU? ALGUÉM
Hoje morreu alguém!
Para muitos não era ninguém...
Mas para outros talvez fosse.
Alguém que muitos estimavam
Outros talvez não
Mas morreu alguém! Não duvido!
Quem? Não sei...
Um sem eira nem beira? Homem? Mulher?
Provavelmente alguém
Espancado numa qualquer rixa.
Alcoolizado num qualquer beco de rua...
Vítima da ira de um outro alguém
Também ele vítima desmedida
De uma sociedade indiferente,
fechada nos seus próprios egos.
Mas hoje alguém partiu...
Disso não duvido e tenho a certeza!
Seria um sem abrigo?
Abandonado na sua própria miséria
Daqueles a quem de soslaio
dizemos em surdina "pobre diabo! "
Enrolado na sua própria solidão
Demência desumana dos que sofrem
Dos que caem no esquecimento.
Mas sim! Foi alguém! Quem?
Não sei...
Se calhar uma mulher!
Angustiada nos seus medos
Maltratada! Violentada!
Apenas porque era mulher
Não uma qualquer
Alguém que de uma vida
Recheada de desilusões
Esventrada nos sentimentos
Infernizada e humilhada
Não teve forças e soçobrou
Por um qualquer ciúme doentio e cruel.
Mas sim! Hoje morreu alguém...
Talvez fosse um idoso
Internado e triste
Mergulhado na solidão atroz
Num misto de abandono frio e calculado
Calado na sua dor e esquecido...
Poderia bem ser uma criança. Porque não?
Abandonada, maltratada
Uma qualquer Maddie
Ultrajada, violentada, assassinada…
Ou simplesmente descurada no seu infortúnio
De alguém que se esqueceu dela.
Tenho a certeza! Partiu alguém...
Quem? Não sei…
Provavelmente polícia, professor, malfeitor
Sem honras de telejornal
Quando muito um cantinho do jornal
Dizendo em letras bem miudinhas
"Hoje foi a sepultar..."
Que morbidamente gostamos de espreitar.
Mas morreu alguém!
Alguém a quem não foi prestada
a devida homenagem em vida
E o direito de viver com dignidade!
Hoje morreu alguém.
E ninguém deu por isso...
Daniel Braga
2020
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