segunda-feira, 21 de dezembro de 2020

Um Natal de desafetos

UM NATAL DE DESAFETOS

Lembremo-nos deles. Nada pedem, nada exigem. Apenas sofrem em silêncio.Porque a rua é o seu maior afeto e o seu lento desamor à vida. É simultaneamente um portaretratos, transmissor de tudo aquilo que não pediram e para o qual se conduziram ou foram conduzidos, num desfilar de imagens de desalento, falta de amor próprio, vergonha e desapego pela vida que se vai esvaindo a cada minuto que passa. Imagens distorcidas de um passado que se foi e um presente que se vive. Dolorosamente num silêncio que incomoda e constrange. No frio da calçada, em mantas andrajosas e mal cheirosas, num qualquer vão de escada, vão deixando uma peugada de incómodo e inquietação a quem passa e se apercebe. Outros indiferentes continuam o seu caminho encolhendo os ombros e desparecendo incógnitos no meio da multidão. Mas há os que se preocupam e procuram ajudar. Porque o Natal deve ser vivido todos os dias e diariamente nos devemos lembrar, na opulência do nosso conforto e bem-estar, que para uns tantos o Natal não é mais do que uma montra de desafetos, de desilusões e de vãs esperanças, vivido no chão frio de uma qualquer esquina, ao relento e no desconforto de uma vida que já o não é e para o qual não conseguem descortinar a luz da esperança no retorno ao direito de condignamente poderem viver sem o estigma da indiferença , da humilhação e da segregação social.

Daniel Braga


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